9 de ago. de 2012

GRAMÁTICA COM TEXTOS


9º ano - coordenação e subordinação de períodos

Objetivos Apresentar o período composto;
Analisar as relações de coordenação e subordinação entre períodos;
Analisar as relações semânticas presentes na construção dos períodos compostos.
Conteúdos Período composto;
Relações de coordenação e subordinação;
Relações semânticas em períodos compostos.
Tempo estimado Seis aulas
Desenvolvimento 
1ª etapa Inicie a aula colocando no quadro o silogismo abaixo.

Todo brasileiro é sul-americano.
Todo paulista é brasileiro.
Todo paulista é sul-americano. 

Explique aos alunos que a palavra silogismo vem do verbo syllogízo (em grego) e significa reunir, juntar pelo pensamento, conjeturar. Trata-se de um tipo de raciocínio desenvolvido na Grécia Antiga pelo filósofo Aristóteles (384 a.C. - 322 a.C.). Parte-se de duas afirmações, chamadas premissas, para chegar a uma conclusão. O exemplo acima começa com uma afirmação geral - Todo brasileiro é sul-americano -, passa por outra mais específica - todo paulista é brasileiro - e chega à conclusão - todo paulista é sul-americano.
Entendido o conceito de silogismo, apresente à moçada o objetivo desta sequência didática: estudar o período composto. Explique que, para isso, é importante relembrar o período simples. Mostre aos alunos que, no silogismo acima, há três períodos simples - cada um com um verbo (ser).

Em seguida, peça que os alunos tentem reescrever o silogismo colocando todas as informações em um único período. Caso perceba que os estudantes estão com dificuldade, proponha que pensem em uma expressão indicativa de hipótese ou condição - sugira o uso dos conectivos se e caso. Dê um tempo para que realizem a atividade e corrija coletivamente no quadro.

Uma possibilidade de redação é a seguinte:

Se todo brasileiro é sul-americano e todo paulista é brasileiro; logo, todo paulista é sul-americano.
Outra é:

Se todo brasileiro é sul-americano e todo paulista é brasileiro, todo paulista é sul-americano. 
Durante a correção, mostre aos alunos que a transformação dos três períodos em um ocorreu por meio do acréscimo de palavras como se, e, logo. Explique que esses elementos funcionam como articuladores entre as orações que fazem parte do período composto.

Pergunte se a conclusão (todo paulista é sul-americano) se sustenta ao suprimirmos uma das duas orações indicadoras de condição (se todo brasileiro é sul-americano e todo paulista é brasileiro). Os estudantes vão notar que não.

2ª etapa Proponha, então, que a turma se organize em duplas e transforme outros dois silogismos em períodos compostos. Desta vez, oriente os alunos para que comecem as frases pela conclusão.

a) Todos homens são mortais.
Sócrates é homem.
Sócrates é mortal.
b) Todo metal dilata com o calor.
A prata é um metal.
A prata dilata com o calor. 

Dê um tempo para que os alunos procurem as respostas e peça que as apresentem. Uma possibilidade de construção é:

a) Sócrates é mortal, já que Sócrates é homem e todo homem é mortal.
Outra é:

b) Sócrates é mortal porque Sócrates é homem e todo homem é mortal.

Deixe claro aos alunos a diferença de sentido entre as duas reescritas. No primeiro caso, trata-se de um período de caráter condicional, em que o locutor cria uma hipótese e a comprova. No segundo, as duas premissas são tomadas como verdades, como dados que embasam o pensamento.

Explique à classe que os articuladores que interligam as orações - porque, já que, logo, se -, representam uma classe de palavras chamada "conjunções".

3ª etapa Escreva no quadro os seguintes períodos compostos:

José saiu e Pedro chegou.
Quando José saiu, Pedro chegou.

Pergunte aos estudantes se os dois períodos possuem o mesmo significado. Conclua com a classe que não. O primeiro possui duas orações interligadas pela conjunção e e sugere a ideia de linearidade: primeiro José saiu e depois Pedro chegou. Já o segundo indica concomitância entre as duas ações. Essa simultaneidade é marcada pela presença da conjunção quando.

Explique, então, a diferença entre períodos compostos por coordenação e por subordinação. Para isso, desmembre as duas orações presentes no item a e pergunte à classe se elas são compreensíveis separadamente. José saiu e Pedro chegou. A moçada vai perceber que sim.

Questione se o mesmo ocorre no item b. Os alunos vão dizer que não. Comente que a oração Quando José saiu é um trecho solto e precisa de complementos para fazer sentido.

Explique à classe que essa característica - possibilidade ou não de existir independentemente do complemento - é usada por vários gramáticos para diferenciar períodos coordenados e subordinados. São chamados períodos compostos por coordenação aqueles em que as orações estão articuladas, mas não há dependência entre elas. O período composto por subordinação, por sua vez, possui orações articuladas, mas com uma relação de dependência.
Para saber mais...
A diferenciação entre período composto por coordenação e por subordinação apresenta vários pontos de discussão entre os gramáticos. Muitos acreditam que também existe dependência nas orações coordenadas.

Não há consenso também sobre as denominações. Para alguns autores, o período subordinado é composto por duas orações distintas - a principal e a subordinada. Para outros, todo o período subordinado representa a oração principal e, dentro dela, está a oração subordinada.

Como as relações estabelecidas pelos períodos compostos são importantes para a estruturação do pensamento e da argumentação, talvez o mais importante, nesse estágio de aprendizado, é dar aos alunos o conhecimento dessas relações. Realize uma problematização compatível com o nível escolar e não insista em aspectos da nomenclatura e classificações minuciosas.

Para se aprofundar sobre o tema, leia o texto A Coordenação e a Subordinação nas Perspectivas Tradicional e Funcionalista: confrontos de Andréa Marques.
4ª etapa Peça que os alunos tragam a gramática para a classe e leia com eles os trechos referentes à coordenação e à subordinação. Veja se a turma apresenta alguma dúvida e explique-a. Em seguida, façam uma breve síntese do conteúdo lido e diga para os alunos anotarem nos cadernos.

Após a escrita dessa síntese, proponha que a moçada classifique as seguintes manchetes - publicadas no jornal Folha de S. Paulo em 03 de novembro de 2010 - em períodos compostos por coordenação ou subordinação.

a) Facebook afirma que corretora comprou dado sigiloso de usuários. b) Gal relança obra e prepara novo disco. c) Estudo explica por que ocidental não diferencia rostos orientais. d) Proteína pode ser capaz de destruir células cancerígenas. e) Republicanos ganham força, mas racham.
Para corrigir a tarefa, sublinhe os verbos de cada período e procure identificar com a turma se eles precisam de complemento. Caso julgue interessante, use a gramática como suporte durante a correção.

Em Facebook afirma que corretora comprou dado sigiloso de usuários, sublinhe os verbos afirma ecomprou. Ao dividir os períodos, os alunos vão perceber que, sozinha, a primeira oração não possui sentido completo. O verbo afirma pressupõe um complemento - que, no caso, é a oração que corretora comprou dado sigiloso de usuários. Trata-se, portanto, de um período composto por subordinação.

Na manchete Gal relança obra e prepara novo disco, repita o procedimento com a classe. Sublinhe os verbos, divida os períodos e peça que os alunos analisem as frases. Eles vão notar que, nesse caso, nenhum dos verbos precisa de elementos da outra oração para ter seu sentido completo. Trata-se, então, de um período composto por coordenação.

Repita a mesma orientação para analisar as demais manchetes. Quando terminar, comente com a classe que a língua é muito rica e a classificação dos gramáticos nem sempre dá conta dessa riqueza. É por isso que as gramáticas se modificam ao longo do tempo.

5ª etapa Comente com a classe que, embora as gramáticas afirmem que o e é uma conjunção coordenada aditiva, há uma série de exemplos na Língua Portuguesa em que ele aparece associado a ideias bem diferentes da adição.

Em seguida, peça que os alunos se dividam em trios e discutam os possíveis sentidos assumidos pelo conectivo e nos textos publicitários abaixo:

Dê um Boticário no dia das mães e transforme-a numa linda mulher. (Propaganda
para o dia das mães do Boticário, outdoor, Juiz de Fora, abril/2006).

Mude para a Tim e ganhe mais créditos no seu pré-pago (Propaganda Tim, Revista Época, 20 abr 2006)

Não leve trabalho pra casa. Tenha Internet no seu Oi e leia seus e-mails no caminho. (Propaganda, Revista Época 5 jul 2010)

Voe Azul e dê férias para o seu bolso. (Propaganda, Revista Época 5 jul 2010)

Dê um tempo para a realização da atividade e corrija-a. Leve os alunos a perceberem que, embora o conectivo e seja comumente associado à ideia de adição, nos casos acima ele remete à ideia de condição e às relações de causalidade. Explique que o vínculo apresentado nessas orações não é de dependência sintática, mas sim da ordem do significado.

As frases Voe Azul / Dê férias para o seu bolso poderiam ser separadas e justapostas sem a presença de conectivos. Há um vínculo implícito entre elas, remetendo ao contexto em que se inserem e ao sentido que as atravessa. Como estamos na dimensão do texto publicitário, mais forte será a sua ação se ele passar como um dado natural e não como uma construção com o objetivo de persuadir o leitor. Assim, se justificaria o camuflamento da subordinação nessas construções.

Levante ainda com os alunos outros usos da conjunção e. Ela pode ser usada com o sentido de adversidade - O menino caiu e não chorou -, com o sentido de conclusão - Chegamos atrasados, perdemos o ônibus e não fomos viajar - entre outros.

Avaliação Proponha que os alunos leiam, em trios, o poema "Eu, etiqueta" de Carlos Drummond de Andrade. Com base na leitura, peça que elaborem um texto publicitário em que o conectivo e seja usado de duas maneiras: como conjunção aditiva - Raul usa blusa da marca X e Ana usa calça da marca Y - e como organizador de períodos com valor de hipótese - Use a marca X, a marca Y e você será feliz.

Os textos publicitários devem ser entregues ao professor e apresentados para a classe na aula seguinte. 
Eu, etiqueta 
Em minha calça está grudado um nome
que não é o meu de batismo ou cartório,
um nome... estranho.
Meu blusão traz lembrete de bebida
que jamais pus na boca, nesta vida.
Em minha camiseta, a marca de cigarro
que não fumo, até hoje não fumei.
Minhas meias falam de produto
que nunca experimentei,
mas são comunicados a meus pés.
Meu tênis é proclama colorido
de alguma coisa não provada
por este provador de longa idade.
Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro,
minha gravata e cinto e escova e pente,
meu copo, minha xícara,
minha toalha de banho e sabonete,
meu isso, meu aquilo,
desde a cabeça ao bico dos sapatos,
são mensagens,
letras falantes,
gritos visuais,
ordens de uso, abuso, reincidência,
costume, hábito, premência,
indispensabilidade,
e fazem de mim homem-anúncio itinerante,
escravo da matéria anunciada.
Estou, estou na moda.
É doce estar na moda, ainda que a moda
seja negar minha identidade,
trocá-la por mil, açambarcando
todas as marcas registradas
todos os logotipos do mercado.
Com que inocência demito-me de ser
eu que antes era e me sabia
tão diverso de outros, tão mim-mesmo
ser pensante, sentinte e solitário
com outros seres diversos e conscientes
de sua humana, invencível condição.
Agora sou anúncio,
ora vulgar ora bizarro,
em língua nacional ou em qualquer língua
(qualquer, principalmente).
E nisto me comprazo, tiro glória
de minha anulação.
Não sou - vê lá - anúncio contratado.
Eu é que mimosamente pago
para anunciar, para vender
em bares festas praias pérgulas piscinas,
e bem à vista exibo esta etiqueta
global no corpo que desiste
de ser veste e sandália de uma essência
tão viva, independente,
que moda ou suborno algum a compromete.
Onde terei jogado fora
meu gosto e capacidade de escolher,
minhas idiossincrasias tão pessoais,
tão minhas que no rosto se espelhavam,
e cada gesto, cada olhar,
cada vinco da roupa
resumia uma estética?
Hoje sou costurado, sou tecido,
sou gravado de forma universal,
saio da estamparia, não de casa,
da vitrina me tiraram, recolocam,
objeto pulsante mas objeto
que se oferece como signo de outros
objetos estáticos, tarifados.
Para me ostentar assim, tão orgulhoso
e ser não eu, mas artigo industrial,
peço que meu nome retifiquem.
Já não me convém o título de homem.
Meu nome novo é coisa.
Eu sou a coisa, coisamente.
(Carlos Drummond de Andrade)
Disponível em: acd.ufrj.br/~pead/tema10/perspectivas.html - Acesso em 02 nov 2010
                                                                                                  revistaescola.abril.com.br

Consultoria Conceição Aparecida Bento
Doutora em Letras pela Universidade de São Paulo e professora universitária.

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